“Pedi a Augusto Midana que abdicasse de lutar e se dedicasse aos trabalhos do campo, talvez teria mais lucro do que sacrificar-se por algo que não lhe daria nada, além da fama”, palavras duma mãe revoltada, que fomos buscar no meio de uma mata a trabalhar para vir contar a história do tricampeão africano da luta livre, Augusto Midana.
Fera Imbandé, mãe do tricampeão africano de Luta Livre, manifestou assim a sua revolta pela situação de dificuldades financeiras e económicas que a sua família enfrenta, não obstante os sucessos do filho na arena internacional da Luta Livre, que na opinião da mãe, não serve para nada e razão pela qual preferia que o filho se dedicasse aos trabalhos de lavoura de campo e através do qual podia sustentar a sua família.
Uma equipa de reportagem do semanário “O Democrata” deslocou-se na última sexta-feira, 08 de Abril, à aldeia natal do rei de arena da Luta Livre guineense, Augusto Midana, a fim de abordar com a família sobre os primeiros passos dados na luta livre por Midana, que segundo a própria família, começou com a prática da luta tradicional.
Na viagem à localidade de Sokutu, arredores de N´hôma, secção do Sector Nhacra (Região de Oio, norte do país), que dista a trinta (30) quilómetros de Bissau, a equipa de reprotagem do Jornal “O Democrata” disfrutou de um ambiente saudável e de simpatia de algumas pessoas que se ofereceram voluntariamente acompanhar os repórteres do jornal à vila do atleta Augusto Midana (Bighatte, nome com qual é também conhecido), medalha de ouro africano três vezes consecutivas para a Guiné-Bissau.
A tabanca de Augusto Midana tem o nome de “Ayoma” e é constituída de três casas uma de zinco e duas de palha e está vedada de paus. Na parte exterior tem uma outra casa de palha. Midana é casado segundo uso e costumes dos balantas, tem duas mulheres e seis filhos, três rapazes e três raparigas.
Logo a chegada, a nossa equipa de reportagem encontrou a tabanca animada (haviam na tabanca muitas crianças taguerelando umas com outras na gritaria e mais umas três mães sentadas numa varanda a sombra da palhota).
A mãe tinha deixado a casa a procura de sustento, depois de solicitada, teve a amabilidade de regressar e sentar-se a mesma varanda terra batida e esburacada com a equipa de reportagem do semanário independente guineense. Quando chegou, ela estava cheia de suor e rodeada de crianças.
Decorridos alguns minutos e de uma pequena brisa natural que saía da bolanha que fez secar o suor e comprimentar os repórteres na língua local (balanta). É uma mãe sorridente para quem já a viu e conhece, mas que aparentemente se sente magoada e consumida pela pobreza.
Num primeiro contacto com o jornal, Fera Imbandé parecia ter receio de dizer algo sobre o filho, mas na equipa havia um dos repórteres que domina o balanta conseguiu não só animá-la como também aproximá-la da equipa. Comovente com a iniciativa, chama a família para transmitir, em detalhes, a intenção dos repórteres. É verdade que a família já acompanhava a proeza do lutador pelos órgãos de comunicação social, sobretudo nas rádios.
Mas a grande verdade tem a ver com o sentimento dos familiares em relação a reflexos dos resultados de Augusto Midana na sua própria família, que vive numa casa de zinco em condições inadequadas atendendo a dimensão do atleta. Pelo menos esse é o sentimento que caracteriza aquela família, e que não esconde o orgulho de pertencer a mesma clã.
Todavia, terá sido essa vontade e orgulho que acabou por reunir a família incluindo a mãe em torno do mesmo sentimento, para falar com os repórteres de “O Democrata” depois de receber alguns detalhes, em balanta, da deslocação da equipa.
Depois de uma explicação alucinante das razões que moveu o jornal a se deslocar a sua procura, mãe Ferá Imbandé ri-se dela mesma dizendo, “Nha fidjus, alin li sussu sim nada”. Foi justamente com este lamento que a mãe do lutador guineense, dez vezes medalhado, começa por abrir o campo para uma conversa amena com os repórteres do semanário independente “O Democrata”.
MÃE: “MIDANA TRAZ RESULTADOS BONS AO PAÍS E REGRESSA À CASA DE MÃOS LIMPAS OU SEM NADA”
Segundo as explicações, a paixão de Augusto Midana pela Luta Livre não moderna terá começado muito cedo nas manifestações tradicionais (kussundé, fanado e toca-choro…) da etnia balanta. Competia sempre nesses ambientes e foi crescendo como grande lutador tradicional de N´hôma chegando a atravessar até a norte do país, na língua balanta chamada zona de kuntoê.
“A minha surpresa foi quando fui informada pela primeira vez, que o meu filho ‘na bai lutu di brancus’ (luta livre moderna no exterior). Acolhi a informação com muito agrado. Mas vai, participa, traz resultados bons e quando volta para a Guiné-Bissau regressa à casa de mãos limpas ou sem nada”, explica lamentando o facto de a família não ter tido gozado o reflexo da fama do filho.
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